New Hampshire – Como será?

7 01 2008

João Esteves

Amanhã será um dia para acompanhar com especial atenção no que às primárias norte – americanas diz respeito. Desta feita, serão os eleitores republicanos e democratas do estado de New Hampshire a votarem nos candidatos que consideram mais aptos para concorrem ao cargo de próximo Presidente dos EUA.

Os resultados desta eleição poderão condicionar o rumo de algumas candidaturas. Poder-se-á afirmar que não serão determinantes, porquanto a população do Estado em causa é reduzida – o que significa que, em termos de aritmética eleitoral, a sua influência será residual. Aceito este argumento. No entanto, urge fazer, desde já, uma advertência. Ganhar em New Hampshire tem um valor simbólico tal que pode funcionar como um catalisador das candidaturas triunfantes – a história confirma-o, pois a regra é quem ganha New Hampshire, ganha a nível nacional (apenas com duas excepções, Bill Clinton e George W. Bush). Note-se, ainda, que a própria dinâmica do processo eleitoral, pode repercutir-se nos resultados das primárias de outros Estados, mormente naqueles em existe uma maior geometria variável. Poderão, entretanto, ocorrer determinados factos políticos susceptíveis de induzirem desfechos eleitorais que não se afiguram plausíveis no actual momento. Donde, analisar a maior ou menor adequação de uma determinada estratégia eleitoral é sempre arriscado. Dito isto, passemos a ver o que, na minha opinião, irá verificar-se na votação de amanhã quer no campo democrata quer no campo republicano.

Partido Democrata

Hillary Clinton – Parece que entendeu a mensagem implícita do resultado que obteve no Iowa caucus: era urgente definir uma nova estratégia eleitoral.

Contudo, viu-se confrontada com um dilema entre a necessidade (urgente) de mudança e uma necessidade de parcimónia nessa mudança para que não pudesse ser interpretada como um sinal de reconhecimento de fracasso ou incoerência. Esta situação é, de resto, reconhecida pelo estratega da sua campanha em declarações à CBS. O resultado de New Hampshire nunca será muito bom para Hillary – no máximo, poderá ser razoável (vitória por uma margem mínima em relação a Barack Obama). No entanto, creio que irá averbar mais uma derrota e a grande incógnita será como reagirá e se preparará para os actos eleitorais nos restantes Estados.

Barack ObamaConjecturo que será o vencedor democrata da eleição de New Hampshire. O candidato afro – americano tem conseguido corresponder aos anseios de mudança de uma franja importante da sociedade americana. E tem marcado a agenda política, sendo que o termo change é sistematicamente citado, quer por parte dos seus adversários democratas, quer por parte dos republicanos (parece que agora é o termo preferido de Mitt Romney…). Denota um bom relacionamento com as massas, uma postura telegénica e uma ainda melhor capacidade retórica (os seus discursos galvanizam). Ganhará New Hampshire e ficará numa posição que, porventura, nem o próprio acreditaria. Poderá chegar longe. Mas a procissão ainda vai no adro…

John EdwardsFicará em terceiro lugar, mas com uma resultado que corresponde às suas expectativas. Edwards representa a ala mais à esquerda do Partido Democrata. É um candidato que suscita a simpatia dos democratas, pela sua capacidade argumentativa, pela sua história familiar. Penso que está já a pensar no cargo de futuro Vice – presidente dos EUA. De Obama (ele preferiria) ou de Hillary (ele não rejeitaria). Daí a sua actuação conciliadora no debate transmitido pelo canal televisivo ABC…

Partido Republicano

John McCain e Mitt RomneyEmbora tudo ainda esteja em aberto, penso que o primeiro irá vencer novamente em New Hampshire. Os eleitores do Estado em análise são estruturalmente diferentes dos de Iowa – enquanto que estes preocupam-se mais com questões de índole moral, aqueles colocam a tónica nos assuntos de natureza económica e de segurança. Ora, julgo que no último debate republicano, McCain esteve melhor que Romney – apresentou-se como o candidato que sempre teve um pensamento na tradição do conservadorismo republicano. Apresentando posições firmes em relação à defesa nacional e à redução de impostos (temas caros aos republicanos de New Hampshire) está numa posição favorável para vencer o confronto eleitoral de amanhã. Acrescente-se que somado ao mérito de McCain, encontra-se o demérito de Romney. A campanha deste tem sido um desastre. Romney prepara-se mal para os debates, não consegue encontrar um tom de intervenção consistente e tem um handicap que lhe é bastante prejudicial – não consegue viver com o facto de ter mudado de posição em relação a questões cruciais para os Republicanos. É ver o seu ar incomodado quando é acusado pelos seus contendores de inconsistência política. Ao ver a actuação de Romney, foi levado a concordar com Mike Huckabee – em política, o dinheiro não é tudo…é importante, mas não chega. É preciso algo mais. E Romney não tem esse mais (pelo menos, não tem tido).

Mike Huckabee – Um exemplo elucidativo do que frisei anteriormente – por vezes, a dinâmica do processo eleitoral pode mudar o rumo dos acontecimentos. Mike Huckabee era um candidato marginal em New Hampshire até à sua vitória no Iowa. A partir daí, e mesmo sendo a sua base de apoio principal pouco numerosa neste Estado, tem subido nas sondagens e creio que irá ficar em terceiro. Continuo a crer que é um candidato a ter em conta.

Rudy GiulianiProssegue a sua estratégia de se concentrar nos Estados mais numerosos e aguarda pelas primárias na Florida. É uma opção válida, em teoria, como todas as outras. Por vezes, demasiada prudência e demasiado calculismo resultam em resultados inesperados e indesejados. E, no caso de ocorrer algum desaire, Giuliani não terá espaço de manobra nem tempo para emendar a mão. Veremos o que irá acontecer…. Até ao lavar dos cestos, é vindima.

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