O Debate Texano

22 02 2008

Joel Galvão

Investigador Estagiário ITD / ISCSP

As expectativas para o debate democrata de Austin, no Texas, eram bastante altas, constituindo um dos momentos mais aguardados das últimas semanas. Seja pela curiosidade que existia sobre a forma como Hillary reagiria às onze derrotas seguidas (se contarmos com os norte-americanos a votar no estrangeiro) ou, por saber se haveria mudança de estratégia da parte da candidatura de Barack Obama, agora que este já não pode mais ser considerado um underdog. Por outro lado, este debate consubstanciava-se como um importante meio de comunicação dos candidatos para com o eleitorado hispânico, crucial tanto no Texas como no Ohio, uma vez que foi organizado pela CNN em colaboração com a Univision, uma importante cadeia televisiva hispânica. Desta forma, dois dos principais temas do debate focaram questões directamente relacionadas com este segmento da população, como a necessidade de democratização de uma Cuba pós-Fidel e a reforma da legislação sobre imigração.

O debate em si não foi tão simpático quanto havia sido o anterior, mas ainda assim registou-se um clima ameno no qual os candidatos notoriamente se tentaram distanciar em determinados assuntos, não obstante estas distâncias serem curtas, em face da sua pertença ao Partido Democrata.

Sobre a questão cubana, a Senadora de Nova Iorque afirmou que não se reuniria com o mais que provável sucessor de Fiel, Raul Castro, caso não fossem antes aplicadas reformas conducentes a uma aplicação da democracia em Cuba. Já o Senador do Illinois não se reviu nesta postura, mostrando-se favorável a um encontro sem condições prévias, sendo sua afirmação que para a América não deve ser somente importante falar com os seus amigos mas também com os seus inimigos.

No que atenta à questão da imigração, ambos foram unânimes na urgência de uma reforma global sobre a legislação concernente à imigração, sendo que Hillary propôs um aumento da vigilância fronteiriça a par de fortes medidas contra empregadores de imigrantes ilegais, enfatizando que a nova lei deve incluir normas para a legalização de imigrantes, caso cumpram determinados critérios.

Já no debate, Clinton focou a sua larga experiência de vida com resultados comprovados. Barack, tendo consciência que a sua postura de não atacar Hillary o faz ganhar votos, optou por responder apenas aos ataques, ao afirmar que na mais importante decisão estratégica desta geração, a guerra no Iraque, mostrou saber melhor que caminhos seguir votando contra, ao contrário de Hillary que, por sua vez, votou a favor, enfatizando deste modo que a experiência de Clinton poderá não lhe ser tão profícua quanto afirma. Quanto a isto, a Senadora defendeu-se afirmando que o propósito inicial seria o de tornar o governo iraquiano capaz de tomar as suas próprias decisões e que, assim que tomar posse como 44º Presidente dos Estados Unidos da América, fará uma retirada gradual das tropas.

Debatendo sobre o assunto que mais preocupa os cidadãos americanos nos dias de hoje, Barack Obama começa por, novamente, contestar a guerra do Iraque, considerando que os gastos relativos a esta, doze biliões de dólares ao mês, poderiam ser efectivamente utilizados para a construção de pontes, estradas ou mesmo para a promoção da saúde pública. Hillary defende uma resolução da crise imobiliária provocada pelos empréstimos de alto risco, através de uma aprovação de uma moratória na execução dos empréstimos que significariam, para muitos americanos, a perda dos seus imóveis. Obama, por sua vez, aponta como o seu principal objectivo restabelecer a justiça e equilíbrio na economia norte-americana.

O clima ameno que vinha a dominar o debate apenas foi quebrado aquando das acusações de plágio da parte da Senadora Clinton. Acusações estas, que Barack minimizou, pedindo à sua adversária que não entrasse em confronto consigo. Negando a crítica, aponta o dedo às Washington’s same old tactics de fazer política, ao invés da discussão real das várias propostas.

No final do “duelo”, ambos os candidatos à nomeação democrata foram questionados sobre qual o momento que foram postos à prova. O Senador do Illinois apontou para todo o seu percurso de vida, criado por uma mãe solteira e avós, sempre se dedicou a unir as pessoas em torno de causas, como na época em que era líder comunitário em Chicago ou em que exerceu advocacia sobre os direitos civis. Já a Senadora de Nova Iorque, sem fazer uma referência directa ao escândalo entre Bill Clinton e Monica Lewinsky, referiu que todos tinham conhecimento das muitas crises por que passou, agradeceu o apoio que sempre obteve, mas salientou que não foi nada comparado com aquilo pelos quais muitos americanos estão a passar.

Tanto a resposta da candidata a primeira presidente mulher da América, como a resposta do candidato a primeiro presidente negro da América foram representativas do seu carácter e do que, em última análise, representam para os seus eleitores. Por um lado, temos o verdadeiro exemplo da concretização do sonho americano, um indivíduo nascido no Hawaii, de ascendência queniana e que viveu em Jacarta, que através do mérito e de aspectos conjunturais favoráveis, é agora, por escassa margem, o front-runner­ democrata, desafiando as leis de Michels. Por outro lado, uma mulher que pelos desafios superados ao longo da sua vida, demonstra uma inesgotável experiência e preparação para os desafios que se erguem, mas que parece não estar a conseguir coincidir com as expectativas que havia criado na opinião pública americana e mundial aquando do anúncio da sua candidatura.

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