Reconfiguração da força militar dos EUA: a próxima década

3 07 2008

Paulo Pereira de Almeida

Vice-Presidente da Direcção do Instituto Transatlântico Democrático

*Artigo publicado na edição de Julho de 2008 da Revista Autor.

No quadro da Global Posture Review – GPR – nos próximos seis anos existirá uma deslocação de mais de 70.000 militares norte-americanos. Ora uma semelhante movimentação das forças militares da principal potência mundial terá – indubitavelmente – uma expressão no desenho geopolítico das MOB – Main Operating Bases – que os Estados Unidos da América têm mantido nos diferentes espaços. Recorde-se – como nota – que as MOB são definidas pelo Departamento de Defesa como bases bem protegidas, mantidas além fronteiras, para apoio de forças deslocadas em permanência, e com um acesso marítimo ou aéreo robusto.

A GPR apresenta-se, pois, como a segunda mais extensa revisão da localização e destacamento do poderio militar norte-americano no pós-Segunda Guerra Mundial, representando um esforço e – simultaneamente – um sinal de uma nova codificação para as mudanças em curso.

De facto, desde o 11 de Setembro de 2001 que os Estados Unidos da América mantinham mais de 250.000 tropas no estrangeiro, 100.000 das quais na Europa e, destas, mais de 71.000 na Alemanha, a que se somam 12.000 em Itália, 11.000 no Reino Unido e as restantes 6.000 repartidas por outros países, entre os quais Portugal, com cerca de 900 militares alocados à Base das Lajes, nos Açores. Além destes, há que contar com a presença de cerca de outros 100.000 militares na Ásia Oriental, divididos entre o Japão, com mais de 33.000, a Coreia do Sul, com mais de 27500, e as bases repartidas pelas águas do Pacífico Ocidental. Além destes, encontramos ainda mais de 900 em Cuba (Base de Guantánamo), mais de 400 nas Honduras e – no caso do Brasil – uns pouco significativos 40 militares.

Ora a importância da redefinição em curso desta rede é – por razões evidentes – um importante tópico para a política externa dos EUA e dos seus Aliados. E já existe uma verba superior a 15 Biliões de Dólares norte-americanos para a racionalização das bases militares, incluindo os custos de fecho e limpeza, de expansão e de construção de novas bases. Mas quais são – do ponto de vista da Administração e do Departamento de Defesa – os principais critérios para a redução de efectivos? Em primeiro, a relevância das localizações estratégicas para a Guerra ao Terror; depois, a vantagem para lidar com outras ameaças significativas em termos operacionais e também dissuasores; em terceiro, a flexibilidade para lidar com outros cenários de intervenção; em quarto, as implicações financeiras da operação para os Estados Unidos; e, em quinto e último, as implicações para a qualidade de vida dos cidadãos norte-americanos. Importa, pois, perceber que o processo de downsizing formal dos efectivos militares na Europa teve – como atrás referimos – consequências notórias: a título de exemplo, na Alemanha os militares passaram de mais de 71.000 para cerca de 47.000.

Existe, todavia, uma questão importante quando pensamos a política de deslocação e manutenção de bases e de uma presença militar norte-americana na Europa: a criação do AFRICOM, comando africano, em 2007 e a sua sede, em Kelley Barracks, Estugarda, na Alemanha. Esta representa um sinal significativo de uma cooperação extensiva que se pretende mais eficaz e – no interesse de Portugal – cada vez mais próxima de África e da Lusofonia.